segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Contos Africanos

O MACACO E O PEIXE
Numa bela manhã, um macaco passeava à beira de um rio quando percebeu que um bicho estranho estava dentro da água. Mas como o macaco nunca tinha visto um peixe, pensou que aquele bicho estava se afogando e fez de tudo para ajudá-lo.
Tentou pegar o peixe uma vez, mas ele escapou de suas mãos. Tentou outra vez, e, novamente ele escapou. Desesperadamente tentou novamente e desta vez conseguiu pegá-lo.
O peixe pulava, pulava e pulava, tentando se soltar, mas o macaco convencido de que estava fazendo o bem para ele, não o deixava escapulir.
O macaco pensava: “Se ele cair na água novamente, pode morrer.
Pouco tempo depois, o peixe parou de se mexer e, nesse momento, o macaco pensou: “Cheguei tarde demais! O pobrezinho não agüentou e morreu afogado.”


O SAPO E A COBRA
Era uma vez um sapinho, que encontrou um bicho comprido, fino, brilhante e colorido deitado no caminho.
- Olá, o que você está fazendo estirada na estrada?
- Estou me esquentando aqui no sol. Sou uma cobrinha, e você?
- Um sapo, vamos brincar?
E eles brincaram a manhã toda no mato.
- Vou ensinar você a pular. – disse o sapinho.
E eles pularam a tarde toda pela estrada.
- Vou ensinar você a subir nas árvores se enroscando e deslizando pelo tronco – disse a cobrinha.
Eles subiram, ficaram com fome e foram embora, cada um para sua casa, prometendo se encontrar no dia seguinte.
- Obrigada por me ensinar a pular. – disse a cobrinha.
- Obrigado por me ensinar a subir na árvore. – disse o sapinho.
Em casa, o sapinho mostrou à mãe que sabia rastejar.
- Quem ensinou isto para você?
- A cobra, minha amiga.
- Você não sabe que a família Cobra não é gente boa? Eles têm veneno. Você está proibido de brincar com cobras. E também de rastejar por aí, não fica bem.
Em casa, a cobrinha mostrou à mãe que sabia pular.
- Quem ensinou isto para você?
- O sapo, meu amigo.
- Que besteira! Você não sabe que a gente nunca se deu com a família Sapo? Da próxima vez agarre o sapo e... Bom apetite! E pare de pular, nós cobras não fazemos isso.
No dia seguinte, cada um ficou na sua.
- Acho que não posso rastejar com você hoje. – disse o sapo.
A cobrinha olhou, lembrou do conselho da mãe e pensou: “ Se ele chegar perto, eu pulo e o devoro”.
Mas lembrou-se da alegria da véspera e dos pulos que aprendeu com o sapinho. Suspirou e deslizou para o mato.
Daquele dia em diante, o sapinho e a cobrinha não brincaram mais juntos. Mas ficavam sempre ao sol, pensando no único dia em que foram amigos.


AMIGOS, MAS NÃO PARA SEMPRE
Em Uganda, no coração da África, os contadores de histórias dizem que, antigamente, o gato e o rato viviam juntos e eram muito amigos.
Os dois parceiros plantavam, colhiam, armazenavam o produto do seu trabalho e pequenos celeiros de barro cobertos com palhas.
Um dia, o rato resolveu que devia guardar o leite também, da mesma forma que os homens faziam para não passar fome durante a estação da seca.
- De que jeito? - questionou o gato - em poucos dias o leite estará azedo.
- Deixe comigo – respondeu o rato – Eu aprendi como as mulheres preparam uma manteiga que eu adoro, a qual elas chamam de ghee.
Então, sob o comando do rato, os dois amigos deram início ao longo processo. Assim que acabavam de ordenhar as vacas, de chifres enormes, punham o leite numa sacola de couro, durante alguns dias, para fermentar. Depois balançavam a bolsa, pendurada por uma corda no galho de uma árvore, para lá e para cá. Em seguida, retiravam a espuma que ia formando-se no topo , colocavam-na em uma panela e ferviam até que a manteiga ficasse no ponto.
No fim da estação da colheita, os compadres tinham um pote cheio de ghee. Para que o gosto ficasse melhor, adicionaram neles uma série de temperos. Mas ainda havia um problema para resolver.
- Onde vamos guardar o ghee? – perguntou o gato – Tem que ser num lugar seguro, pois não confio muito em você – falou o felino, olhando com desconfiança para o amigo. – Conheço bem as suas fraquezas.
- Você tem razão. O simples cheiro do ghee me deixa com água na boca. Vai ser difícil resistir – conformou-se o rato.
- Pra ser sincero, o ghee não estaria a salvo comigo também – replicou o gato – alisando os bigodes.
Depois de uma longa discussão, concordaram que o melhor lugar para esconder o ghee seria no interior de uma velha igreja, construída pelos missionários europeus.
- O templo é um lugar tão sagrado como as árvores cultuadas pelos povos que habitam as florestas. Ninguém vai ter coragem de mexer ali – opinou o rato.
- É mesmo – apoiou o gato – Além disso o ghee ficará protegido contra a ação de insetos e vermes.
À noite, protegidos pela escuridão, o gato e o rato esconderam o pote cheio de ghee num canto da sacristia, onde o pastor guardava os documentos da igreja.
Quando a estação das secas chegou, o gato e o rato se alimentaram com os alimentos que armazenaram nos celeiros. Havia bastante comida para os dois. Mas o rato não parava de pensar no ghee que eles ocultaram na igreja.
- Será que não estragou? Como é que deve estar o gosto agora? – pensava o pequeno roedor.
Morrendo de vontade de provar um pouquinho do ghee, ele planejou uma boa desculpa:
- Tenho de ir à igreja. A filha da minha irmã vai ser batizada e ela pediu que eu fosse o padrinho.
- Está bem – disse o gato, sem desconfiar de nada.
O rato, tão logo chegou na igreja, pegou o pote, destampou-o e começou a comer.
- Ai que delícia – elogiava, com a boca toda lambuzada de manteiga.
Antes de sair, cobriu a vasilha de barro e guardou-a cuidadosamente no mesmo lugar.
- Como foi a festa? – perguntou o gato, assim que o rato retornou com uma cara toda satisfeita.
- Foi ótima.
- Qual o nome que deram para o filho da sua irmã?
- Quase cheio, respondeu o roedor, lembrando-se de como havia deixado o pote.
Dias depois, convencido de que o gato era mais fácil de enganar do que imaginavam, resolveu provar mais um pouco de ghee.
- Fui convidado para outro batizado – mentiu ele.
Na volta, com a barriga estufada, disse que o nome do recém-batizado tinha sido Metade.
- Que nomes estranhos a sua família dá aos filhotes – comentou o gato, sem perceber que estava sendo passado para trás.
O rato decidiu continuar com suas incursões até que o ghee acabasse. Ele, sempre que voltava da igreja, inventava nomes novos para os parentes batizados, de acordo com o conteúdo do pote, que ia diminuindo a cada visita. O último nome, lógico, só podia ser Vazio.
Quando a comida estocada nos celeiros acabou, o gato chamou o rato e disse:
- Agora podemos pegar o ghee que estocamos na igreja.
- Sinto muito, mas não posso acompanhá-lo, estou me sentindo mal – desculpou-se o rato.
Então o gato foi até o templo sozinho. Quando ele abriu o pote levou o maior susto.
- O quê? Não tem nada! – esbravejou – Isso não pode ser verdade – lamentou-se o bichano, rolando de raiva pelo chão.
Quando o gato chegou em casa, pronto para dar a má notícia, descobriu que o rato havia feito a trouxa e desaparecido no meio da floresta.
- Só pode ter sido este traidor! Agora entendo os nomes esquisitos que ele ia inventando: Quase Cheio, Metade, Um Pouco, Pouquinho, Vazio...
Desde esse dia, o gato vive à procura do rato. Mas o roedor, assim que escuta o miado do implacável perseguidor, foge correndo para sua toca.


O JABUTI DE ASAS
Os jabutis, contam os mais velhos, sempre foram respeitados por sua sabedoria e prudência. Mas por causa da ganância de um deles, todos os parentes passaram a ter o casco rachado.
Há muito tempo, um jabuti soube que uma grande festa estava sendo organizada pelas aves que viviam voando entre os galhos das florestas.
- Eu também quero ir – disse ele tirando a cabecinha para fora do casco.
- Mas a festa vai ser no céu – explicou um papagaio. – Como é que você vai voar até lá?
O jabuti ficou com uma cara tão triste, que os pássaros com dó dele resolveram ajudá-lo.
- Olhe, nos vamos emprestar algumas de nossas penas para você.
E assim foi feito, a passarinhada, com pedacinhos de cordas, amarrou plumas coloridas nas patas dianteiras e traseiras do jabuti.
- Pronto! Agora você já pode voar – comemoraram os pássaros. – Mas tem outra coisa. Nessa festa cada um tem de usar um nome diferente. Qual vai ser o seu?
O jabuti, astucioso, depois de pensar um pouco disse:
- Pra todos.
Na manhã seguinte, quando os galos começaram a cantar, os convidados já estavam acordados, prontos para partir rumo à festa.
Só que a viagem levou mais tempo do que eles pensavam, pois o jabuti não sabia voar direito e atrasou todo mundo.
Para decolar foi um custo. Os céus da África nunca tinham visto um ser voador tão desajeitado como aquele jabuti de asas reluzentes.
- Que lindo! – gritava o jabuti, deslumbrado com a visão dos cafezais e algodoais que ia desfrutando do alto.
O ar era tão claro que dava para o jabuti avistar os picos das montanhas ao longe, cobertos de neve.
- Olhe o tamanho daquele rio! – exclamava, apontando para o magestoso Nilo Branco.
Por isso, quando alcançaram o céu, a festa já tinha começado.
Uma mesa enorme para o café da manhã, coberta de frutas, aguardava havia tempo os retardatários.
A passarada, de acordo com os velhos costumes, perguntou:
- Para quem a comida vai ser servida primeiro?
A dona da festa, uma água imponente, foi quem respondeu:
- Pra todos.
- Então é pra mim – disse o jabuti, avançando nas guloseimas, enquanto os pássaros observavam, sem poder fazer nada.
A festa continuou animada até a hora do almoço. E novamente a cena se repetiu:
- Para quem é o almoço? – perguntaram os pássaros.
- Pra todos, disse a anfitriã.
O jabuti, sem perder tempo, comeu tudo outra vez.
Na hora do jantar foi a mesma coisa. O bando de aves, esfomeado, resolveu ir embora. Mas, primeiro, exigiu que o jabuti devolvesse as penas que haviam emprestado a ele.
- Entregue tudo – disseram os passarinhos. Arrancando as plumas em torno das patas do jabuti.
Antes que os pássaros voassem de volta à floresta, o jabuti fez um pedido:
- Por favor, passem na minha casa e peçam para a minha mãe colocar um monte de capim em frente à nossa porta – implorou.
- Para quê?
- Para eu não me machucar quando pular do céu – disse o espertalhão.
Os pássaros, zangados, quando chegaram à terra deram um recado errado à mãe do jabuti:
- O seu filho pediu para a senhora colocar umas pedras bem grandes na entrada da casa.
Resultado: o jabuti esborrachou-se contra os pedregulhos. Por sorte não morreu. A mãe dele é que teve um trabalho danado para remendar os pedaços do casco todo arrebentado.
Por causa do tombo, os descentes do jabuti, além de passarem a andar muito devagar, carregam esta couraça rachada até hoje.


A GAZELA E O CARACOL
Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:
- Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
- Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser "caracol", tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol"». Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
- Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.
Quando a gazela chegou, disse:
- Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando:
- Caracol!
E havia sempre um caracol que respondia:
- Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.

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