quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Poema de Natal - Vinícius de Moraes


Natal

De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:

— Cristo nasceu!

O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:

— Aonde? Aonde?


Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:

— Em Belém! Em Belém!

Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:

— Foi sim que eu estava lá!

E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: — É mentira!

Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.

O pombal todo arrulhava:
— Cruz credo! Cruz credo!

Brava

A arara a gritar começa:
— Mentira! Arara. Ora essa!

— Cristo nasceu! canta o galo.

— Aonde? pergunta o boi.
— Num estábulo! — o cavalo
Contente rincha onde foi.

Bale o cordeiro também:
— Em Belém! Mé! Em Belém!

E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.

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