Diariamente leio histórias para meus pequerruchos, sempre que posso recorro às fábulas.
Hoje trago algumas de Esopo, posteriormente trarei outros autores.
A Cegonha e a Raposa
Sendo amigas a Cegonha com a Raposa, a Raposa a convidou um dia a jantar. Chegado o tempo, preparou a Raposa ardilosa uma comida líquida, manjar como papas e a estendeu por uma lousa, e importunava a Cegonha a que comesse. Mas como ela picava na lousa, quebrava o bico, e nada tomava nele, com que se foi faminta para o ninho. Mas por se vingar, convidou a Raposa outra vez e lançou o manjar em uma almotolia, donde comia com o bico, e pescoço comprido. E a Raposa não podendo meter o focinho, se tornou para sua casa, corrida e morta de fome.
A Rã e o Escorpião
Parado ao sol, o escorpião olhava ao redor da montanha onde morava.
"Positivamente, tenho de me mudar daqui" - pensou.
Esperou a madrugada chegar, lançou-se por caminhos empoeirados até atingir a floresta. Escalou rochedos, cruzou bosques e, finalmente, chegou às margens do rio largo e caudaloso.
"Que imensidão de águas! A outra margem parece tão convidativa... Se eu soubesse nadar..."
Subiu longo trecho da margem, desceu novamente, olhou para trás. Aquele rio certamente não teria medo de escorpião. A travessia era impossível.
"Não vai dar. Tenho de reconsiderar minha decisão" - lamentou.
Estava quase desistindo quando viu a rã sobre a relva, bem próxima à correnteza. Os olhos do escorpião brilharam:
"Ora, ora... Acho que encontrei a solução!" - pensou rápido.
- Olá, rãzinha! Me diga uma coisa: você é capaz de atravessar este rio?
- Ih, já fiz essa travessia muitas vezes até a outra margem. Mas por que você pergunta? - disse a rã, desconfiada.
- Ah, deve ser tão agradável do outro lado - disse - pena eu não saber nadar.
A rã já estava com os olhos arregalados: "será que ele vai me pedir...?"
- Se eu pedisse um favor, você me faria? - disse o escorpião mansamente.
- Que favor? - murmurou a rã.
- Bem - o tom da voz era mais brando ainda - bem, você me carregaria nas costas até a outra margem?
A rã hesitou:
- Como é que eu vou ter certeza de que você não vai me matar?
- Ora, não tenha medo. Evidentemente, se eu matar você, também morrerei - argumentou o escorpião.
- Mas... e se quando estivermos saindo daqui você me matar e pular de volta para a margem?
- Nesse caso eu não cruzaria o rio nem atingiria meu destino - replicou o escorpião.
- E como vou saber se você não vai me matar quando atingirmos a outra margem? - perguntou a rã.
- Ora, ora... quando chegarmos ao outro lado eu estarei tão agradecido pela sua ajuda que não vou pagar essa gentileza com a morte.
Os argumentos do escorpião eram muito lógicos. A rã ponderou, ponderou e, afinal, convenceu-se. O escorpião acomodou-se nas costas macias da agora companheira de viagem e começaram a travessia. A rã nadava suavemente e o escorpião quase chegou a cochilar. Perdeu-se em pensamentos e planos futuros, olhando a extensão enorme do rio.
De repente se deu conta de que estava dependendo de alguém, de que ficaria devendo um favor para a rãzinha. Reagiu, ergueu o ferrão.
"Antes a morte que tal sorte" - pensou.
A rã sentiu uma violenta dor nas costas e, com o rabo do olho, viu o escorpião recolher o ferrão. Um torpor cada vez mais acentuado começava a invadir-Ihe o corpo.
- Seu tolo - gritou a rã - agora nós dois vamos morrer! Por que fez isso?
O escorpião deu uma risadinha sarcástica e sacudiu o corpo.
- Desculpe, mas eu não pude evitar. Essa é a minha natureza.
A Raposa e as Uvas
Uma raposa morta de fome, viu alguns cachos de uvas negras maduras penduradas nas grades de uma viçosa videira.
Ela então usou de todos os seus dotes e artifícios para alcançá-las, mas acabou se cansando em vão, sem conseguir.
Por fim deu meia volta e foi embora, consolando a si mesmo desapontada e dizendo:
- As uvas estão estragadas, e não maduras como eu pensei.
A Raposa e o Lenhador
Uma raposa era perseguida por uns caçadores, quando viu um lenhador e suplicou que ele a escondesse. O homem então lhe aconselhou que entrasse em sua cabana.
De imediato chegaram os caçadores, e perguntaram ao lenhador se havia visto a raposa.
Com a voz ele disse que não, mas com sua mão disfarçadamente mostrava onde havia se escondido.
Os caçadores não compreenderam os sinais da mão e se confiaram no que disse com as palavras.
A raposa, ao vê-los irem, saiu sem dizer nada.
O lenhador a reprovou porque, apesar de tê-la salvo, não agradecera, ao que a raposa respondeu:
- Agradeceria se tuas mãos e tua boca tivessem dito o mesmo.
Moral da Estória: Não negues com teus atos, o que pregas com tuas palavras.
O Cachorro e Sua Sombra
Um cachorro, ao cruzar uma ponte sobre um riacho carregando um pedaço de carne na boca, viu sua própria imagem refletida na água, e pensou que fosse outro cachorro, com um pedaço, com o dobro do tamanho do que carregava.
Ele então largou sua carne, e ferozmente atacou o outro cachorro para tomar-lhe aquele pedaço que era bem maior que o seu.
Agindo assim ele perdeu ambos; aquele que tentou pegar na água, pois era apenas um reflexo; e o seu próprio que caiu no riacho e foi levado pela correnteza.
Moral da Estória: Quem tudo quer tudo perde.
O Cão Dorminhoco e o Lobo
Como estava dormindo à porta de um estábulo, um cão foi surpreendido por um lobo que se lançou sobre ele, pronto para devorá-lo. Mas o cão lhe pediu para adiar o sacrifício:
- Agora - disse ele - estou raquítico e doente. Mas espera um pouco, meus donos estão para comemorar suas núpcias; comerei muito e, bem gordinho, serei para ti um prato delicioso.
O lobo acreditou nele e se foi. Alguns anos depois, ele voltou e viu que o cão estava dormindo no andar de cima da casa. De baixo, ele chamou:
- Lembras de mim - disse ele - daquilo que combinamos?
O cão então falou:
- Ô seu lobo, quando me vires de agora em diante dormir diante do estábulo, não esperes mais as núpcias.
Moral da Estória: Uma vez salvo do perigo, o homem sensato se previne para sempre.
O Cavalo e o Asno
Um homem tinha um cavalo e um asno. Um dia que ambos iam à cidade, o asno, sentindo-se cansado, disse ao cavalo:
- Toma uma parte de minha carga se te interessa minha vida.
O cavalo, fazendo-se de surdo, não disse nada e o asno caiu vítima de fadiga e morreu ali mesmo. Então o dono passou toda a carga para cima do cavalo, inclusive a pele do asno, e o cavalo, suspirando. disse:
- Que má sorte tenho! Por não ter querido carregar um fardo leve, agora tenho que carregar tudo, até a pele do asno!
Moral da Estória: Cada vez que estendes tua mão para ajudar ao próximo, sem que notes estás, na realidade, ajudando a ti mesmo.
O Gato e o Galo
Um gato capturou um galo, e ficou imaginando como achar uma desculpa qualquer para que o fato de que este ia comê-lo, fosse justificado.
Acusou ele então de causar aborrecimentos aos homens já que cantava à noite e não os deixava dormir.
O galo se defendeu dizendo, que fazia isso em benefício dos homens, e assim eles podiam acordar cedo e irem para o trabalho.
O gato respondeu:
- Apesar de você ter uma boa desculpa, eu não posso ficar sem jantar.
E assim comeu o galo.
O Gato e o Papagaio
Um homem comprou um lindo papagaio de penas coloridas.
E, em vez de o fechar numa gaiola ou prendê-lo a um poleiro com uma corrente no pé, deixou-o voar em liberdade pela casa. O papagaio ficou todo contente com isso, e voava de sala para sala, palrando de alegria. Depois empoleirava-se no cordão de um luxuoso reposteiro.
- Mas quem és tu ? - perguntou uma voz furiosa lá de baixo - acaba com esse barulho horrível imediatamente.
O papagaio viu um gato a olhar para ele, lá em baixo, no tapete.
- Eu sou um papagaio. Cheguei há pouco e faço todo o barulho que posso - disse ele .
- Pois eu tenho vivido aqui toda a minha vida - respondeu o gato - já nasci nesta casa, e a minha mãe ensinou-me que para aqui ficar o melhor é estar calado.
- Então cala-te - disse o papagaio alegremente - não sei o que fazes nesta casa, mas sei o que devo fazer. O meu dono comprou-me por causa da minha voz e eu quero ter a certeza de que ele me ouve .
Moral das Estória: Pessoas diferentes devem ser avaliadas por coisas diferente.
O Lobo e a Garça
Um lobo, tendo se engasgado com um pedaço de osso, contratou uma garça, por uma grande soma em dinheiro, para ela colocar a cabeça dentro da sua garganta e de lá retirar o osso.
Quando a garça retirou o osso, e pediu o pagamento que tinham combinado, o lobo, rangendo os dentes, exclamou:
- Ora, ora! Você já foi recompensada, ao ser permitido que sua cabeça saisse a salvo de dentro da boca e mandíbulas de um lobo.
Moral da Estória: Ao servir a alguém de má índole, não espere recompensas, e agradeça se depois disso ele não o prejudicar.
O Lobo e a Ovelha
Um lobo, muito ferido por mordidas de cachorros, repousava doente e muito machucado em sua toca.
Como estava com fome, ele chamou uma ovelha, que ia passando por perto, e pediu-lhe para trazer um pouco da água de um regato que corria ao lado dela.
- Assim - falou o lobo - se você me trouxer água, eu ficarei em condições de conseguir meu próprio alimento.
- Claro - respondeu a ovelha - se eu levar água para você, você sem dúvida fará de mim uma provisão de comida também.
Moral da Estória: Palavras hipócritas são fáceis de reconhecer.
O Mosquito e o Touro
Um mosquito pousou no chifre de um touro que pastava e lá ficou por muito tempo, vendo a paisagem. Antes de ir embora, voou e perguntou ao touro:
- O meu peso o incomodou, senhor touro? Gostaria de saber a sua opinião! Se assim for, basta dizer e procurarei não incomodá-lo mais.
O touro, que sequer havia percebido a presença do mosquito, respondeu sem muito interesse.
- Tanto faz. Se quiser ficar, fique, se quiser ir, vá embora. Para mim não faz nenhuma diferença.
Moral da Estória: Nem sempre os outros nos dão a importância que pensamos ter.
O Ratinho da Cidade e o Ratinho do Campo
Certo dia um ratinho do campo convidou seu amigo que morava na cidade para ir visitá-lo em sua casa no meio da relva. O ratinho da cidade foi, mas ficou muito chateado quando viu o que havia para jantar: grãos de cevada e umas raízes com gosto de terra.
- Coitado de você, meu amigo! - exclamou ele - leva uma vida de formiga! Venha morar comigo na cidade que nós dois juntos vamos acabar com todo o toucinho deste país!
E lá se foi o ratinho do campo para a cidade. O amigo mostrou para ele uma despensa com queijo, mel, cereais, figos e tâmaras. O ratinho do campo ficou de queixo caído. Resolveram começar o banquete na mesma hora. Mas mal deu para sentir cheirinho: a porta da despensa se abriu e alguém entrou. Os dois ratos fugiram apavorados e se esconderam no primeiro buraco apertado que encontraram. Quando a situação se acalmou e os amigos iam saindo com todo o cuidado do esconderijo, outra pessoa entrou na despensa e foi preciso sumir de novo. A essas alturas o ratinho do campo já estava caindo pelas tabelas.
- Até logo - disse ele - já vou indo. Estou vendo que sua vida é um luxo só, mas para mim não serve. É muito perigosa. Vou para minha casa, onde posso comer minha comidinha simples em paz.
Moral da Estória: Mais vale uma vida modesta com paz e sossego que todo o luxo do mundo com perigos e preocupações.
O Urso e as Abelhas
Um urso topou com uma arvore caída que servia de deposito de mel para um enxame de abelhas. Começou a farejar o tronco quando uma das abelhas do enxame voltou do campo de trevos. Adivinhando o que ele queria, deu uma picada daquelas no urso e depois desapareceu no buraco do tronco. O urso ficou louco de raiva e se pôs a arranhar o tronco com as garras na esperança de destruir o ninho. A única coisa que conseguiu foi fazer o enxame ficar atrás dele. O urso fugiu a toda velocidade e só se salvou porque mergulhou num lago.
Moral da Estória: Mais vale suportar um só ferimento em silêncio do que perder o controle e acabar todo machucado.
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